Amigos da A Professora Tia Lilian

quarta-feira, 7 de abril de 2010

As estrelas de Van Gogh

Poema: Via Láctea (Fragmentos)
Poeta: Olavo Bilac
Noite estrelada - 1889
***
I
Talvez sonhasse, quando a vi. Mas via
Que, aos raios do luar iluminada,
Entre as estrelas trêmulas subia
Uma infinita e cintilante escada.
***
E eu olhava-a de baixo, olhava-a... Em cada
Degrau, que o ouro mais límpido vestia,
Mudo e sereno, um anjo a harpa doirada,
Ressoante de súplicas, feria...
***
Tu, mãe sagrada! vós também, formosas
Ilusões! sonhos meus! íeis por ela
Como um bando de sombras vaporosas.
***
E, ó meu amor! eu te buscava, quando
Vi que no alto surgias, calma e bela,
O olhar celeste para o meu baixando...
***
Noite estrelada sobre o Ródano - 1888
XIII
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
***
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
***
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com ela? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
***
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."
(aprofessoratialilian)
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac
Rio de Janeiro: 16/12/1865
Rio de Janeiro: 28/12/1918
Foi jornalista, poeta brasileiro e membro
fundador da Academia Brasileira de Letras
em 1896. Criou a cadeira de nº15, cujo
patrono é o poeta Gonçalves Dias.
E escreveu a letra do Hino à Bandeira.
Em 1907, foi eleito "Príncipe dos poetas
brasileiros", pela Revista Fon-Fon.
Bilac foi a maior liderança e expressão
do Parnasianismo no Brasil; juntamente
com Alberto de Oliveira e Raimundo Correia
ficaram conhecidos como a Tríade Parnasiana.
A publicação de "Poesias" em 1888 rendeu-lhe
a consagração.

O amor na visão Vangoghiana.

Poema: "Se se morre de amor"(Fragmentos)
Gonçalves Dias Desenho, 1882
Se se morre de amor _ Não, não se morre,
Quando é fascinação que nos surpreende(...)
Assomos de prazer nos raiam n"alma,
Que embelezada e solta em tal ambiente
No que ouve, e no que vê prazer alcança! (...)
Um quê mal definido, acaso podem
Num engano d'amor arrebatar-nos.
Mas isso amor não é; issso é delírio,
Devaneio; ilusão, que se esvaece(...)
Se outro nome lhe dão, se amor o chamam,
D'amor igual ninguém sucumbe à perda.
Desenho, 1886
Amor é vida; é ter constantemente
Alma, sentidos, coração _ abertos
Ao grande, ao belo; é ser capaz d'extremos(...)
Compr'ender o infinito, a imensidade,
E a natureza e Deus; gostar dos campos,
D'aves, flores, murmúrios solitários(...)
Conhecer o prazer e a desventura
No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto
O ditoso, o misérrimo dos entes;
Isso é amor, e desse amor se morre!
Desenho, 1887
Amar, e não saber, não ter coragem
Para dizer que amor que em nós sentimos;
Temer qu'olhos profanos nos devassem
O templo, onde a melhor porção da vida
Se concentra; onde avaros recatamos
Essa fonte de amor, esses tesouros
Inesgotáveis, d'ilusões floridas (...)
Compr'ender, sem lhe ouvir, seus pensamentos,
Segui-la, sem poder fitar seus olhos,
Amá-la, sem ousar dizer que amamos (...)
Arder por afogá-la em mil abraços:
Isso é amor, e desse amor se morre!
Desenho, 1890

Se tal paixão porém enfim transborda,
Se tem na terra o galardão devido
Em recíproco afeto; e unidas, uma,
Dois seres, duas vidas se procuram,
Entendem-se, confundem-se e penetram
Juntas _ em puro céu d'êxtases puros:
Se logo a mão do fado as torna estranhas,
Se os duplica e separa, quando unidos
A mesma vida circulava em ambos;
Que será do que fica, e do que longe
Serve às borrascas de ludíbrio e escárnio?(...)
Dois corações, porém, que juntos batem,
Que juntos vivem, _ se os separam, morrem;
Ou se entre o próprio estrago inda vegetam,
Se aparência de vida, em mal, conservam,
Ânsias cruas resumem do proscrito,
Que busca achar no berço a sepultura!
Desenho, 1890

Esse que sobrevive à própria ruína,
Ao seu viver do coração, _ às gratas
Ilusões, quando em leito solitário,
Entre as sombras da noite, em larga insônia,
Devaneando, a futurar venturas,
Mostra-se e brinca a apetecida imagem;
Esse, que a dor tamanha não sucumbe,
Inveja a quem na sepultura encontra
Dos males seus o desejado termo!
(aprofessoratialilian)